O Julgamento de Sócrates (I.F.Stone)
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Irônico, radical e polêmico, IF. Stone, renomado jornalista político com uma carreira de mais de setenta anos, que dentre inúmeros feitos, criou uma newsletter sem precedentes na história da imprensa mundial que começou com um público de 5.300 leitores, entre eles Bertrand Russell, Albert Einstein e Eleanor Roosevelt. Stone era detentor de ideias fortes e polêmicas como:
“John Kennedy foi um líder convencional, não mais que um conservador esclarecido, demasiado cauteloso para a sua idade e dominado por um indisfarçável desprezo pelo povo.” “Poucas coisas conseguem permanecer secretas por muito tempo. O que os serviços de inteligência fazem é dizer ao patrão que ele está agindo de maneira correta. A espionagem é um desperdício de dinheiro. Ninguém passa a entender melhor o que acontece bisbilhotando por buracos de fechadura.” “Acho que todo o homem é um Pigmaleão de si próprio. E em recriando a si próprio, bem ou mal, ele recria a raça humana e o futuro.”

Em sua aposentadoria, ele se dedicou a investigar temas que sempre o haviam perseguido: a liberdade de pensamento e de expressão. Foram dez anos de estudo sobre a história da Grécia antiga e de Roma, tornando-se conhecedor de grego arcaico e especialista no julgamento de Sócrates – condenado a beber cicuta por corromper a juventude com suas ideias. Esse livro apresenta sua investigação sobre as perguntas: Teria havido uma caça às bruxas em Atenas? Teria Sócrates sido de fato vítima de um autoritarismo? Stone nos conta algo que nenhum filósofo se atreveu a supor: Sócrates preocupava-se unicamente com sua própria liberdade de expressão e, no fundo, cavou a sua própria condenação!

Trechos:
✒”O que havia de mais humilhante – e irritante – no método socrático de interrogação era o fato de que, ao mesmo tempo que era demonstrada a ignorância dos outros, estes eram levados a pensar que a suposta ignorância de Sócrates era puro fingimento e ostentação. Trata-se da famosa ‘ironia’ socrática. A palavra grega eironeia da qual deriva a palavra ‘ironia’, significava ‘fingimento’ e ‘dissimulação’. Seus interlocutores sentiam que, por trás da ‘ironia’ , da máscara de falsa modéstia, Socrates estava rindo deles. É essa crueldade que se esconde nas estrelinhas do relato platônico, com todo o seu fino humor aristocrático; e o efeito dessa politesse é torná-la ainda mais terrível.” (p.108)
✒”Por que Sócrates afirma que o oráculo de Delfos lhe impôs uma missão divina – a missão de questionar os seu concidadãos, especialmente os notáveis de Atenas, a fim de descobrir o que o oráculo queria dizer ao afirmar que não havia ninguém mais sabio do que ele? (…) Sócrates explica que adquiriu má reputação apenas por causa de uma espécie de sabedoria, embora nem mesmo ele compreenda inteiramente que sabedoria é essa. (…) Por que motivo uma reputação de sábio causaria problemas a alguém numa cidade como Atenas, a qual acorriam filósofos de toda a Grécia, onde eram não apenas bem recebidos como também sobejamente recompensados como professores e palestrantes? (…) A resposta, aparentemente, é que Sócrates usava sua espécie de ‘sabedoria’ – sophia, sua arte de lógico e filósofo – para um fim político específico: o de fazer com que todos os notáveis da cidade parecessem tolos e ignorantes. A missão divina que, segundo ele, o oráculo lhe impôs seria o que hoje denominamos de ‘ego trip’ – uma autoglorificação para Sócrates que implicava o aviltamento dos mais respeitados líderes da cidade. Desse modo Sócrates abalava a pólis, difamava os homens dos quais ela dependia e alienava os jovens.” (p.109)
✒”Sócrates é admirado por seu inconformismo, mas poucos se dão conta de que se rebelava contra uma sociedade aberta e admirava uma sociedade fechada. Era um dos atenienses que desprezavam a democracia e idealizavam Esparta. A mais antiga referência a esse fato encontra-se na divertida comédia de Aristófanes, Os Pássaros, montada em 414 a.C., quando Sócrates tinha cerca de 51 anos. Aristófanes o mostra como ídolo dos atenienses descontentes que eram favoráveis a Esparta. Com sua inventividade exuberante, o poeta cômico cria duas palavras: elakonomanoum, “laconômano”, ser louco pelas coisas de Lacônia, isto é, Esparta. No verso 1282, Aristófanes cunha outro termo – esokrotoun, derivado do verbo sokrateo, que é imitar Sócrates.Os jovens em questão eram […] Laconômanos; andavam cabeludos, Famélicos, sujos, socratizados, Com scytales nas mãos […] A palavra scytales designa bastões ou porretes que os espartanos levavam consigo.” (p.153-154)

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