Gerolamo Cardano
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Nascido em 1501, Gerolamo Cardano não era uma criança muito promissora. Sua mãe Chiara detestava crianças, embora já tivesse 3 meninos. Baixa, atarracada, mal-humorada e promíscua, ela preparou uma espécie de pílula do dia seguinte do século XVI ao ficar grávida de Gerolamo. Uma espécie de chá que a fez vomitar muito, mas o bebê continuou inabalável. As outras tentativas de Chiara falharam da mesma forma.
Chiara e o pai de Gerolamo não eram casados, mas pareciam, pois a vizinhança os conheciam por suas brigas barulhentas e frequentes. Um mês após o nascimento do menino, Chiara deixou a casa e o bebê e foi morar com a irmã. Gerolamo nasceu depois de um doloroso trabalho de parto que durou três dias, o bebê nasceu frágil e se manteve silencioso. Chiara deve ter pensado que estaria livre dele, a parteira previu que ele morreria em uma hora. Mas a ama de leite que estava por perto o submergiu em um banho de vinho quente e o bebê reviveu. Poucos meses depois, a saúde de Gerolamo continuou sendo testada. Sua enfermeira e os 3 meio-irmãos adoeceram da Peste. Eram os tempos da Peste Negra, que na verdade eram 3 doenças distintas: peste bubônica, pneumônica e septicêmica. Cardano contraiu a bubônica, a mais comum, conhecida por dolorosos inchaços nos gânglios linfáticos, apresentando bubões do tamanho de um ovo. A expectativa de vida após o aparecimento dessas formações era de cerca de 1 semana.
A enfermeira, os irmãos, todos morreram. Mas seu destino seria viver até quase os 75 anos. Dentre as sequelas, restou a desfiguração de sua face: verrugas no nariz, bochechas, queixo. Ainda, durante a infância, levaria belas surras e ajudaria o pai que era uma espécie de empresário. O pai, Fazio Gerolamo, era geômetra de formação e amigo de Leonardo da Vinci. Mas a geometria não lhe havia rendido dinheiro, então ele oferecia conselhos de direito e medicina aos bem-nascidos da época. A partir dos cinco anos, Gerolamo ajudava o pai carregando uma mochila nas costas, em que havia pesados livros de medicina e direito. Eles tinham de cruzar várias vezes ao dia a cidade de Milão para atender clientes. Gerolamo, adulto, escreveria que “de tempos em tempos, quando caminhávamos, meu pai ordenava parar, abria um livro e, usando minha cabeça como apoio, lia uma longa passagem, cutucando-me o tempo todo com o pé para que eu ficasse imóvel, caso não suportasse aquele grande peso.”
Gerolamo decide deixar sua família em Milão para estudar medicina nas melhores universidades da época. Seu pai insiste que o rapaz estude direito, oferecendo uma mesada anual de 100 coroas. Gerolamo persistiu na sua escolha e para se subsidiar escrevia horóscopos, dava aulas de geometria, alquimia e astronomia. Em algum momento, ele percebeu seu talento para os jogos de apostas e como isso lhe traria mais dinheiro que qualquer outro meio. Cardano jogava os jogos de azar, governados pelo puro acaso. Em pouco tempo, ele tinha mais de mil coroas guardadas para seus estudos, mais do que ganharia se seu pai lhe desse a mesada, sem falhar, por uma década.
Pouco tempo depois, escreveria sua teoria sobre as apostas. O livro dos jogos de azar, de Cardano é o 1° avanço, o 1° êxito na tentativa humana de compreender a incerteza. A simplicidade e eficácia de Cardano para lidar com as questões do acaso é surpreendente. Cardano se equivoca em alguns pontos, mas mesmo assim tem muitos méritos.
Cardano não era um rebelde do ambiente intelectual europeu do século XVI. Para ele, o uivo de um cão prenunciava a morte da pessoa amada, e uns poucos corvos no telhado significavam grave doença a caminho. Ele acreditava em destino e em vislumbrar o futuro no alinhamento dos corpos celestes. Sua habilidade para os jogos de azar era uma questão intuitiva, e não racional. Mas o trabalho de Cardano transcendia o estado primitivo da matemática do seu tempo – a álgebra, e até mesmo a aritmética, ainda estavam na idade da pedra, nem mesmo o sinal de igual havia sido inventado no século XVI.
Antes de morrer, Gerolamo Cardamo queimou 170 manuscritos não publicados. As pessoas que vasculharam suas posses encontraram 111 textos sobreviventes, um deles intitulado “O livro dos jogos de azar”, o primeiro na História a tratar da teoria da aleatoriedade.
📖O Andar do Bêbado – Como o Acaso Determina Nossas Vidas (Leonard Mlodinow) – Capítulo 3 adaptado.
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