A Princesa e a Ervilha (por Luciana Mion)
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O Conto de Fadas
O príncipe dá todo o seu apoio ao pai idoso e frágil. Não pode sair do lado dele, pois havia a ameaça do reino ser invadido. São sete anos ao lado do pai! Até que numa noite de tempestade terrível, alguém bate na porta. É uma jovem que se diz princesa! O príncipe fica super feliz, mas o rei-ancião precisa testar a tal “princesa”… Recebe – a muito bem, colocando num luxuoso quarto com sete colchões bem fofos. Embaixo de suas camadas, discretamente insere uma pequena ervilha.Na manhã seguinte, a princesa agradece a hospitalidade, no entanto, ela comenta que, mesmo com toda a pompa do quarto e da cama, sua noite tinha sido péssima. Alguma coisa a havia machucado…Com essas palavras, à primeira impressão, descorteses, ela prova ser uma verdadeira princesa. Somente uma verdadeira princesa se casaria com o príncipe.
A Análise
Apesar de achar esse conto de fadas atraente, antipatizava um pouco com a princesa… Como pode ser tão mimada, detalhista e cheia de melindres? O meu coração gostava do conto, mas a minha cabeça fazia esse tipo de questionamento. Passou-se muito tempo, até que eu pudesse entender a importância dos detalhes na vida cotidiana, precisamos brigar pelos detalhes, se necessário for! É o que a estória nos diz!
Quantas pessoas não perdem direitos, dinheiro, alegrias por causa de uma pequena cláusula de contrato? Quantas pessoas deixam de entrar na faculdade dos sonhos ou em um emprego público por causa de um ponto em uma prova? E assim vai com tantos exemplos de vida… Ao mesmo tempo, em alguma situação, podemos nos sentir constrangidos ao reinvindicar detalhes, medo de sermos chato ou picuinha. Este conto de fadas fala exatamente disso do alto de sua sabedoria adormecida!
Este conto de fadas nos diz que os detalhes são importantes, que os detalhes são essenciais. Igual àquele ditado: “Deus está nos detalhes”.
Percebam também que “A Princesa e a Ervilha”, apesar do enredo simples, está cheio de belas imagens e informações simbólicas. É pela água de uma tempestade que chega uma figura feminina que vai equilibrar uma situação de mal-estar entre o príncipe e seu pai. Como um jovem príncipe, provavelmente ele gostaria de passear pelo mundo e conhecer belas mulheres – mas o seu pai impõe-lhe o dever. É diante dessa disputa psicológica e simbólica que a jovem aparece. A água torrencial, que de acordo com a prof. Lúcia representa o mundo material, também, ao meu ver, simboliza um estado de tristeza absoluta. As águas representam as emoções – uma prova disso é a palavra “mágoa”, que vem de “más águas”…
Outro símbolo que insistentemente aparece é o número 7. Este número está em diversos contos de fadas – Branca de Neve e os Sete Anões; Bela Adormecida com suas Sete Fadas Madrinhas etc… Para a Prof. Lúcia, o número está dado por tradições espirituais antigas, por exemplo, no hinduísmo temos sete chakras e, em outras tradições, podemos decifrar o corpo humano em sete camadas: material; energético; psicológico; mente inferior, mente superior; intuição; e Vontade Divina… Você não precisa necessariamente acreditar nessas tradições espirituais para apreciar um conto de fadas e para ele falar algo único para você. Essa foi apenas minha tentativa de passar uma visão diferente sobre o conto sem jamais esgotá-lo.
Acredito que os contos de fadas são formas de abordar o mistério da própria condição humana; eles são como um grãozinho de uma ervilha que rola e rola desde um mundo longínquo e um tempo ancestral e que, pelo destino, chegou até nós, talvez para que algo maior possa florescer!
Classificação
Como uma forma de melhor organizar os contos no mundo todo, foi instituída a classificação ATU, sigla de Aarne-Thompsom- Uther. Apesar de cada conto ser único, pela numeração ATU é possível reuní-los em uma unidade temática. O conto analisado está junto a tantos outros que falam de “Uma Moça Muito Sensível”, por isso o n°704 (ATU-704), assim como engloba toda a estória cujo protagonista deve passar pelo “teste da ervilha” ou “teste do grão”.
Por sua vez, a prof. Lúcia coloca esse conto de fadas no 3° Ciclo ou Ciclo Heroico. Nesses contos, provas são dadas para que se mostre aptidão e nobreza.
Fontes Inspiradoras:
Nova Acrópole – Prof Lucia Helena Galvão.
Prof. Marco Haurélio, por ter me apresentado o sistema ATU.
SurLaLuneFairyTalesBlog (em inglês)
http://www.surlalunefairytales.com/