O Homem que Tinha Furúnculos (estória de tradição do povo Xavante)

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“Criar é matar a Morte.”
“Esquecer os mortos é condenar-se a não ter futuro.”

Essa é uma estória do tempo do poder de quando muito antigamente o povo A’uwe vivia em “Zumore”. “Zumore” é quando o povo anda muito e acampa muito, anda muito e acampa muito, sem parar! Por todo o território e por todo o Cerrado, fazíamos “Zumore”, éramos nômades.
No “Zumore”, havia um rapaz com furúnculos. O corpo todo coberto daquilo, ele sofria muito e já não conseguia mais andar. Mas era hora de seguir, os irmãos queriam levar o rapaz nas costas, mas ele não queria dar trabalho! Os irmãos se negavam a deixá-lo ali pra morrer, a saudade iria doer muito no peito. Mas ninguém conseguia convencê-lo a seguir e então o colocaram na casa do acampamento e seguiram viagem.
A preocupação com aquele irmão doente não passava, resolveram voltar depois de um tempo e não o acharam mais. Era por que havia acontecido uma outra coisa nesse meio tempo. Um Gavião Carcará que sobrevoava a região viu o homem dos furúnculos sofrendo muito dentro de casa. O Gavião chamou seus companheiros Urubus, inclusive o ancião – rei dos Urubus…
Todos comentavam o destino do homem.
Foi o ancião – rei que decidiu que cada urubu tirasse uma pena de si e batesse com toda a força. Todos, inclusive o Gavião, batiam a pena sob o corpo doente, pulavam com o máximo esforço batendo a pena, para que um vento forte se fizesse sob o homem. E assim ele foi se elevando, pela força do vento, subiu muito alto no céu, mas as aves não aguentavam mais manter aquele movimento. O corpo começou a despencar e foi um dos mais jovens que imediatamente preveniu a queda, colocando-o em suas costas. Depois, todos foram socorrê-lo. Voavam alto, juntos e alinhados, evitando nova queda do homem.
E chegaram à morada do céu exaustos. De tão cansados, os urubus começaram a vomitar. Nenhum pássaro queria receber o homem em sua casa no céu, então o Urubu-Rei ordenou que o homem viveria na casa de Gavião-Carcará. E lá ele se curou.
O rapaz curado aprendeu o conhecimento dos seres de poder. Os urubus voavam, seguindo o povo A’uwe que vivia em “Zumore”. Eles ouviam o choro da mãe, do pai, dos irmãos do rapaz e foram contar para o Gavião que acabou contando para o rapaz. O rapaz decidiu na hora voltar para sua família, mas ele só iria se fosse aprovado na reunião de Conselho.
E o Conselho permitiu sua volta com a condição que não revelasse os segredos do povo do céu. Se os segredos fossem revelados, o povo Urubu passaria a se alimentar de carne apodrecida e das vísceras que os homens abandonavam depois de limpar as caçadas.
Ele foi deixado na beira do córrego com uma cesta cheia de carnes nobres do povo do ceu. Do outro lado acampava o seu povo, quando sua família o viu todos se abraçaram e choraram muito. A magnífica cesta foi distribuída para todas as famílias A’uwe.
Assim contou o Senhor da Queixada.

Assim foi a estória do povo Xavante sobre Vencer a Morte, Solidariedade e Confiança.

🔸️Fonte da Estória e de outras estórias do povo indígena: http://historiasdatradicao.org/ouvir-historias/
🔸️Site Povos Indígenas do Brasilhttps://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Xavante

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