O Príncipe Feliz (Oscar Wilde adaptado por Protagonismo Literário)
#oscarwilde #contos #estórias #protagonismo #protagonismoliterario

Esse é um conto que sempre me emocionou muito ao ler e ao contar. Gostaria de compartilhar com vocês!!!!💖🐜📖🐜

“Era uma vez uma andorinha que ficou para trás durante a migração anual para o Egito, assim como acontece de vez em quando, com algumas infelizes aves que estão muito cansadas para continuar e se perdem de suas famílias. Descansar no começo foi muito bom para aquela andorinha, pois o clima estava quente mas aos poucos foi ficando frio a ponto dela sentir necessidade de buscar um abrigo.
Voou por toda a cidade até que viu a estátua no alto da enorme coluna. E, assim, pousou entre os pés do Príncipe Feliz. “Tenho um quarto de ouro”, pensou ela feliz, enquanto já se preparava para dormir, mas, quando estava a pôr sua cabeça debaixo da asa, uma enorme gota de água a molhou. “Que coisa curiosa! Não há uma só nuvem no céu e as estrelas estão muito claras e brilhantes… Então caiu outra gota. “Para que serve uma estátua se não consegue abrigar-me da chuva?”, pensou. E decidiu: “Tenho de procurar uma boa chaminé”.
Mas mal tinha aberto suas asas quando uma 3a. gota caiu e só então ela identificou que os olhos do Príncipe Feliz estavam cheios de lágrimas e as lágrimas caíam pelas suas faces douradas.
O príncipe era essa estátua magnífica de ouro, com olhos de safira e um grande rubi enfeitando sua espada. Mas dentro dela, havia uma alma taciturna e um coração de chumbo. O príncipe confessou:— Quando eu era vivo e tinha um coração humano não sabia o que eram lágrimas, pois vivia no Palácio Sem-Cuidados, onde não é permitida a entrada da tristeza. De dia eu brincava com meus amigos no jardim e à noite abria o baile no salão.Nunca me preocupei em perguntar o que estava do outro lado do muro alto do meu palácio, pois tudo à minha volta era bonito. Os cortesãos me chamavam-de Príncipe Feliz e, realmente, se o prazer é felicidade, eu era feliz. E assim vivi, e assim morri. E agora que estou morto, eles me puseram aqui em cima, tão alto que consigo ver todas as coisas feias e toda a miséria da minha cidade, e apesar do meu coração ser feito de chumbo, não consigo deixar de chorar.
Continuou a estátua em voz baixa:— Lá longe numa rua pequena, há uma casa pobre. Uma das janelas está aberta e através dela eu posso ver uma mulher sentada à mesa. Ela tem um rosto magro e fatigado, e tem as mãos rudes e vermelhas, todas picadas da agulha, pois é costureira. Ela está a bordar flores da paixão num vestido de cetim para a mais bela das damas de honra da Rainha vestir no próximo baile. Numa cama, ao canto do quarto, o seu filhinho está deitado, doente. Ele tem febre e está a pedir laranjas. A mãe não tem nada para lhe dar, a não ser água do rio e, por isso, ele está a chorar. Andorinha, Andorinha, pequena Andorinha, leva, por favor, o rubi do cabo da minha espada? Os meus pés estão presos a este pedestal e eu não posso mexer.
O Príncipe estava tão triste que a andorinha foi e, ao volta, contou-lhe o que tinha feito. “É curioso”, notou ela, “Sinto-me tão bem, agora, apesar de estar com tanto frio!”
— Isso é pq vc fez uma boa ação — disse o Príncipe. E a pequena Andorinha começou a pensar sobre isso e adormeceu, sonhando que estava junto de suas companheiros no enorme rio do Egito.
Na manhã seguinte, pensava em enfrentar o frio para buscar por sua família e comunicou ao Príncipe:Tem alguma mensagem para o Egito? Eu vou agora mesmo para lá.”
— Pequena Andorinha, não quer ficar comigo só mais uma noite? Lá longe, do outro lado da cidade, eu vejo um jovem num sótão. Ele está inclinado sobre uma secretária coberta de papéis e, a seu lado, num copo, está um ramo de violetas mortas. O seu cabelo é castanho e encaracolado, os seus lábios são vermelhos como uma romã, e ele tem olhos grandes e sonhadores. Está acabando uma peça para o diretor do Teatro, mas sente muito frio e não consegue escrever. Não há chama na lareira e a fome deixou-o enfraquecido.— disse o Príncipe — Tenho os meus olhos que são safiras raras, trazidas da Índia há cem anos. Tira uma delas e leva-a. Ele comprará comida e lenha para a lareira, e acabará a peça.
Mais um dia e uma noite se passaram e a andorinha ficou feliz por auxiliar o Príncipe Feliz.
Mas o Príncipe sofria muito, pois ele ainda podia notar que uma mocinha que vendia fósforos, deixou-os todos cair na sarjeta e se estragaram. O pai dela vai lhe bater se ela não trouxer dinheiro para casa . Ela estava em prantos, sem sapatos nem meias, sem nenhum agasalho. E o Príncipe pede à querida andorinha que lhe leve seu outro olho de safira.
“Mas não posso tirar-te o teu olho. Assim, vc ficará cego!”, disse a andorinha. Mas ela via que sua recusa magoava ainda mais o príncipe. Assim que ela cumpriu sua missão, a andorinha falou: “agora você está cego, ficarei com você para sempre”. Depois dormiu aos pés do Príncipe e na manhã seguinte, sentou-se em seu ombro e lhe contou estórias do que tinha visto em terras distantes.
— Querida pequena andorinha, vc fala de coisas de espantar, mas mais espantoso é o sofrimento dos homens. Não há Mistério maior do que a Miséria. Pequena Andorinha, voa pela minha cidade e conta-me o que vê.
E, assim, a Andorinha voou pela grande cidade e viu os ricos a divertirem-se nas suas lindas casas, enquanto os pedintes estavam sentados aos portões. Voou por becos e viu as caras pálidas das crianças que, cheias de fome, olhavam com indiferença para as ruas negras. Debaixo de um arco de ponte, estavam dois rapazinhos deitados, um nos braços do outro, a tentarem se manter quentes.
— Que fome que nós temos! — disseram eles.— Vocês não podem ficar aqui — berrou o Guarda Noturno, e lá foram eles para a chuva.
Então, a Andorinha voou de volta e contou ao Príncipe o que tinha visto.
— Eu estou coberto de ouro maciço. Tira-o, folha a folha, e dá aos meus pobres! – suplicou o Príncipe.
A Andorinha tirou o lindo ouro, folha a folha, até o Príncipe Feliz ficar cinzento e sem graça. Folha a folha, ela levou o ouro aos pobres, e as faces das crianças tornaram-se mais rosadas, e elas riam e brincavam nas ruas.
— Agora temos pão! — gritavam elas.
A pobre Andorinha foi ficando cada vez com mais frio, mas não abandonou o Príncipe, pois gostava muito dele. Apanhava migalhas à porta do padeiro, quando este não via, e tentava manter-se quente, batendo as asas. Mas, por fim, percebeu que ia morrer. Só tinha forças para voar para o ombro do Príncipe, mais uma vez.
— Adeus, querido Príncipe! — murmurou ela. — Posso beijar a sua mão?
— Fico contente por ires, finalmente, para o Egito, pequena Andorinha — disse o Príncipe. — Já ficou aqui por muito tempoVocê deve me beijar nos lábios, pois eu gosto muito de ti.
— Não é para o Egito que eu vou. Eu vou para a Casa da Morte. A Morte é a irmã do Sono, não é?
E beijou o Príncipe nos lábios e caiu morta aos seus pés. Nesse momento, ouviu-se um barulho estranho, como se alguma coisa se tivesse partido dentro da estátua. A verdade é que o coração de chumbo tinha-se partido em dois. Estava um frio terrível.
Na manhã seguinte, bem cedo, o Prefeito passeava na Praça, na companhia dos conselheiros, ele olhou para a estátua e exclamou: “Meu Deus! Que maltrapilho está o Príncipe Feliz!”
— Realmente! — Conselheiros, que concordavam sempre com o Prefeito.
Parece um mendigo. E até tem um pássaro morto aos pés! — continuou o Prefeito. — Temos de fazer um decreto para proibir os pássaros de morrer aqui.
O secretário tomou nota da sugestão. E assim, deitaram abaixo a estátua do Príncipe Feliz.
— Como deixou de ser bonito, já não tem utilidade — disse o Professor de Arte da Universidade.
Os inimigos políticos do Príncipe Feliz também fizeram um abaixo-assinado e passeatas para retirá-lo, alegando que um símbolo da Antiga Realeza não devia ser exaltado pela recente República instalada.
Derreteram, então, a estátua num forno para reaproveitamento dos materiais. O coração de chumbo que não conseguia ser fundido foi jogado ao lixo junto com o corpo da andorinha. Mas foi do lixo que um Anjo recolheu o coração de chumbo e o pássaro morto.
— Escolheu bem — disse Deus ao Anjo — pois no meu jardim do Paraíso, este pássaro cantará para sempre, e na minha cidade de ouro, o Príncipe Feliz far-me-á companhia.”

🐜🐜Fonte🐜:
🔸️ http://www.gilbertogodoy.com.br/ler-post/o-principe-feliz—oscar-wilde

Compartilhar

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Rolar para cima