Uma Polêmica: o que Jesus, Maria Madalena e Santa Sara Kali tem em comum além de Uma Mentira? (por Luciana Mion)
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Já faz algum tempo que eu li o livro da foto e ele me trouxe alguns incômodos. Mas sei que esse livro é o eco do que muita gente confabula sobre as narrativas do Novo Testamento.
Dizem que Jesus não foi crucificado, ou pior, encenou a própria crucificação para depois fugir com Maria Madalena a fim de constituir sua família. Nesse livro específico também diz que Jesus era milionário e que seu pai, um empresário do ramo de móveis, financiou suas andanças e estudos nos principais centros culturais do Mundo Antigo, como nos da Turquia e da Índia…
Esse tipo de boato sobre a vida terrena do Jesus histórico sempre me irritou profundamente. Porque fere a espiritualidade cristã sobre desimportância da riqueza material diante das qualidades morais e transforma Jesus num Pedro Malasartes bastante engenhoso. Ao colocar que todos os homens sérios e dignos da sociedade judia se casavam, também traz julgamentos e fere o livre-arbítrio do Jesus histórico em poder dizer “não” àquela instituição em sua época.
A vida de um Jesus mudano que teria se estabelecido no sul da França junto com a 13° apostola Maria de Magdala e uma filhinha de pele escura vem da Idade Média. Essa narrativa atrai a atenção de muita gente e não à toa está colocada como fio condutor do livro mais vendido do Dan Brown “O Código da Vinci”. Por sua vez, parece que o Dan Brown pesquisou teorias em livros de sucesso dos anos 80 como o da escritora Margaret Starbird, a qual afirma ter levantado material arqueológico e linguístico com nomes de lugares associados às lendas de que Maria de Magdala era a esposa de Jesus.
Mas há uma explicação para toda essa especulação que acontece no sul da França. Trata-se de uma hipótese bem mais plausível e respeitosa à pessoa de Jesus.
No período medieval, o clero era a classe exploradora, rica, opressiva e naquela região o povo ansiava por uma nova interpretação do novo testamento mais igualitário e que incluísse o feminino como algo sagrado. Os cátaros eram esse grupo alternativo que afirmavam que mulheres podiam pregar tanto quanto homens, pois assim tinha feito Maria de Magdala naquela região.
Não se sabe se eles ou mesmo, a partir daí, o próprio povo construíram elaboradas narrativas que se fortaleceram em tradições medievais locais. São tão fortes tais estórias que até hoje se fazem festividades (há cultos entre os dias 23 e 25 de maio) na região, sem falar no turismo gerado e na venda livros, não é mesmo?
São narrativas imprecisas, mascaradas de “conhecimento oculto”, que mais ou menos chegaram assim até nós:
Jesus e Maria de Magdala eram ambos ricos, superdotados em inteligência e beleza, com conexão direta com Deus. Eles se conheciam desde criança e já se amavam.
O relato das bodas de Caná – evento em que se deu o primeiro milagre de Jesus com a transformação de água em vinho – na verdade é o próprio casamento de Jesus. A crucificação e a morte de Jesus foi encenada e, logo após, sua esposa com José de Arimateia fugiram para Alexandria.
Jesus se encontrou com eles em Alexandria e logo tiveram uma filha de pele escura (Sara, ou, princesa em aramaico). Depois foram para o sul francês, onde se encontraram com Maria Salomé, Maria de Cleofas, Marta e Lázaro. Esse núcleo de personagens bíblicos começou a pregar na região.
Sara, a filhinha de pele escura, começou a ser venerada como Rainha Negra ou pelo nome Santa Sara Kali (Kali, vem do sânscrito e quer dizer negra). Pela tradição, ela é representada como uma jovem de 12 anos. Também se percebe aqui o sincretismo com o povo cigano ou romani, provavelmente tão perseguidos quanto outros hereges da Igreja…
Essas foram as narrativas que ecoam desde a Idade Média, mas ganharam uma áurea de conhecimento especial – o que não quer dizer que foram fatos! A atração das pessoas por essa estória se deve justamente ao grau de opressão e exploração a que foram submetidas pela instituição que detinha a oficialidade dos evangelhos.
Não sei o que é verdade ou mentira. Mas refuto pensar que o Jesus histórico tenha sido um cara sacana que fez um teatrinho em cima da cruz para poder escapar com vida e viver o seu relacionamento. Também refuto a ideia de que ele seria um cara cheio da grana, mas só de sacanagem batia na porta das pessoas pra pedir comida e abrigo.
O Jesus histórico, pelo que já li em evangelhos, parecia ter um papo bem reto e não estar nem aí para o que os outros fossem achar ou dizer. Se ele quisesse viver um relacionamento e tido uma filha, ele não seria dado a disfarces e mentiras sobre isso.
Outro tópico que sempre vem à tona e acho importante o esclarecimento. Sobre Maria de Magdala ser a prostituta ou adúltera salva de apedrejamento por Jesus; a própria Igreja Católica já esclareceu que se tratava de uma outra mulher e não são a mesma pessoa. Maria de Magdala era uma mulher de posses que financiava o evangelho junto com outras mulheres, segundo a própria Igreja.
Entre o que aconteceu (se aconteceu) e versões que chegam a nós mascaradas de conhecimento oculto, há um oceano no espaço e no tempo! E muitas pessoas escolhem àquelas que mais lhe agradam. 😉🐜
Pessoal, incomoda a displicência, ao mesmo tempo, revestida de “conhecimento secreto” que paira sobre essa estória… Muitas pessoas sentem a necessidade de romance e de uma concepção de Jesus mais humana e passional… Mas o que é mais interessante não significa necessariamente que seja verdadeiro.
Agradeço às Fontes Inspiradoras:
🐜Mundo Proibido – Wagner Sousa – Jesus e Maria Madalena – A Linhagem Sagrada
🐜Aleteia – O que aconteceu com Maria Madalena?
🐜Aleteia – Jesus, casado com Maria Madalena?
🐜 Diário de Notícias – Maria Madalena Deixa de Ser Prostituta
Já as rodas vermelhas vieram de uma manifestação completamente espontânea da minha parte. Assim que as vi, pensei em chamá-las de roda cigana. Só depois de muitos dias, fui buscar as referências: contei seus aros e eram 16, mesmo número do da bandeira cigana… Daí fui pesquisando, meditando sobre Santa Sara Kali. Tinha e tenho questionamentos sobre sua imagem de culto para os ciganos com o título de santa dos católicos e uma designação hindu – talvez em referência à deusa Kali no hinduísmo? Santa Sara Kali não é uma figura facilmente explicável. E apenas sei que a estória de Jesus e Madalena não lhe faz jus. 🐜🔴

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