A dama lançou-lhe um olhar e imediatamente baixou os olhos.– Ele não morde – disse corando.– Posso dar um osso a ele? – perguntou Gúrov e, quando ela balançou a cabeça afirmativamente, perguntou em tom amistoso: – A senhora está aqui há muito tempo?
– Uns cinco dias.– Quanto a mim, já me arrasto aqui faz duas semanas.Calaram-se por um instante.– O tempo passa depressa, mas, ao mesmo tempo, isto aqui é um tédio! – disse ela sem olhar para ele.– Não passa de um hábito dizer que aqui é um tédio – disse ele. – O burguês leva sua vida em algum lugar, em Beliov ou Jizdra e não sente tédio, mas quando chega aqui: “Ai, que tédio! Ai, quanta poeira!”. Pode-se até pensar que ele veio de Granada.
Ela riu. Depois ambos continuaram a comer em silêncio, como dois desconhecidos. Porém, quando terminaram, puseram-se a caminhar juntos, iniciando uma conversa bem-humorada, leve, de pessoas livres e felizes, para quem não importava para onde ir nem sobre o que falar. Ficaram passeando e fazendo comentários sobre a estranha luminosidade do mar. A água tinha um tom lilás, suave e quente, e por ela se estendia uma faixa dourada de luar. (…)
Mais tarde, no quarto do hotel, ficou pensando nela e imaginou que na certa eles se encontrariam no dia seguinte. Era o que deveria acontecer.
📖Fonte: A Dama do Cachorrinho – Anton Tchecov🎥Filme “O Leitor”
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