Escadas de Jacó (texto e imagens por Luciana Mion)
Era uma vez uma pedra que eu sonhava.
Luz. Vento.Estrela.Escada. No bolso,
caminhava com uma benção roubada
(comprada!) Luz extrema. Venda barata.
Calados passos avisavam – sou ladrão!
Seres etéreos iam e voltavam.Ventre. Estrela.
Entre: Jornada no Deserto. “Sou hebreu”. “Sou
breu”, sete vezes a ser iluminado. Posso
entrar?

Seres perfeitos subiam e desciam dentro de
mim. Pedra e pó, sou feito. Sou frágil e sem
pêlos. Como um degrau. Como um copo de
cristal. Como um filhinho de mamãe… Esaú,
para você, meu guisado.

Mãe. Pai! Quis chamar um pau de meu cajado.
Nesta luz sombria não imaginaria que meu
corpo semearia milhões de vidas. Uma nação.
Luz, eu vi, Raquel, ó minha amada, ladrão que rouba
Labão é sete vezes abençoado.
Perdoa-me, meu irmão. A escada. O cajado.
A minha mão e sua estrela.
Cantavam os querubins:
sobe a escada e ergue a espada! Lia, eu quero
a Raquel para mim.

Eu a perdi, Raquel! Eu o perdi, José! Luz eu pedi.
Labão, sou breu, sou hebreu, por Deus,
dai-me os novilhos manchados para a volta.
Era na minha tenda que todos nos
abrigávamos de anjos das bençãos roubadas e
de estrelas a caírem. Mãe. Pai! Eu só escuto
“pega, ladrão!” Sete vezes quis provar
merecimento, mas o movimento de anjos me
cansavam subindo e descendo.

Benjamim, ai, me abraça! Trouxe ao mundo
trapaceiros que violaram um casamento. O
príncipe de Diná está morto e uma vermelha
tenda expõe a transgressão em sangue. Luz e
anjos pardos de baixezas, minhas filhas foram
molestadas e caladas – contente estou com o
nome: Jacó e só.
Mas quero subir!
Diná, sete vezes daria você para amar Raquel.
Esaú, vem comer do cordeiro, mas não tome minha
cadeira. Aí bem já vi que a luta contra um ser
alado está para estourar a coxa esquerda,
mesma do nascimento de Adão. Sou ladrão,
sou mentiroso e achei a minha espada!
José, vamos sonhar sonhos de poder?
Sei que sou só, sou Jacó.
Foi um sonho…
Não há como subir, nem descer de Betel
– pedra sublime de delírios.
Mas, você viu, José?
Ouviu o nome?
Neste chão do sonho, eu disputava, anjos em espirais indo e voltando, um deles
machuquei…
Ei, Israel, um brado da vitória,
estará no papel registrado o triunfo do
Patriarcado.


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