Lysis (Sobre a Amizade) – Diálogos Platônicos (Análise do Canal Filosofando)
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A obra Lysis é um dos principais diálogos platônicos e ele trata sobre a natureza da amizade. O valor da amizade é enaltecido desde os épicos poemas gregos até os nossos dias. A amizade é um dos mais expressivos vínculos capazes de reunir os homens dispersos pela vida de acordo com seus interesses individuais. O diálogo começa quando Sócrates, aceitando o convite que lhe fizeram vai a uma espécie de reunião, onde posteriormente se discutiria acerca da Natureza da Amizade.Dois rapazes estavam presentes na ocasião. Sócrates nota a profunda conexão e intimidade entre eles, decide questioná-los sobre o que é amizade e como se define um amigo. Sócrates confessa que não tem o dom da amizade e pede que Menexeno, um dos rapazes, lhe diga como um homem pode ser amigo de outro. Sócrates indaga: “quem é amigo de quem? O que ama ou o que é amado? Ou isso não faz diferença alguma?”A pergunta aparentemente ingênua se faz pertinente. Há casos inegáveis de amor não-correspondido, ou pior, que pode ser retribuído com ódio. Isso não é tão raro nas histórias e estórias de amor…Sócrates diz que não se pode classificar alguém como “amigo”, quando ele não corresponde o amor do amigo, ainda mesmo, se houver ódio como resposta. Neste caso, o “amigo” seria amigo do inimigo. Para os gregos, isso é uma contradição, pois o amor aos inimigos não é uma virtude grega – e sim uma excelente qualidade no mundo cristão. Não haveria a verdadeira relação de amizade sem reciprocidade. A conclusão seria que a reciprocidade entre amigos faz parte da natureza da amizade.Mas Sócrates lembra dos animais e dos seres inanimados que não conseguem corresponder com a relação de amizade que os homens lhes têm. Conclui que o afeto dedicado aos seres irracionais e a objetos não pode ser verdadeiramente tido como amizade. Dizemos que “o cão é o melhor amigo do homem”, mas com ele não se pode ter a real relação de amizade. Pode-se ter afeto pelo cão e pelas rosas do jardim, mas jamais estará estabelecida a amizade. Sócrates também diz que pessoas podem ser amadas por seus inimigos e odiadas por seus amigos. E como no mundo grego ser amigo do inimigo é impossível e absurdo, sendo como aquele que recebe ou exerce o afeto da amizade… Daí Sócrates chega à conclusão que amigo não é nem quem ama e nem quem é amado. O filósofo chega a um impasse, nesse ponto nem Menexeno e nem os leitores conseguem entendê-lo. Ele, que estava tratando da Natureza da Amizade, passa a tratar da Natureza dos Amigos. Os amigos são semelhantes ou dessemelhantes?Numa primeira hipótese, os amigos são semelhantes e se afastam dos dessemelhantes. Talvez por isso a sabedoria popular tenha forjado:”diga-me com quem andas e eu te direi quem és.”Sócrates cita: “um deus sempre junta os bons.” Ele assim afirma que só os bons podem ser amigos entre si, porque os maus são desajustados e não conseguem se harmonizar internamente e nem assemelhar-se com outros. Mas…Sócrates reconsidera sua hipótese: “Não há semelhança na amizade, nem quando ela está ligada pela Bondade.” Esse novo posicionamento gera a indagação.”Como as pessoas boas podem ser amigas, se ambas já possuem necessidades supridas e não precisam em nada uma da outra? Se ambas são semelhantes e uma não agrega à outra?Sócrates muda o seu ponto de vista radicalmente: “o semelhante é o maior inimigo do semelhante.” Ele adota o raciocínio dos contrários: “o fraco precisa do forte, o doente do médico, o ignorante do sábio.” Nesse sentido, o relacionamento de amizade ocorreria devido à falta que o outro poderia suprir. Assim a dessemelhança seria a força de atração da amizade. A conclusão não o satisfaz. Pois o semelhante não é amigo do semelhante, assim o bom não é amigo do bom, e o mau não poderia ser amigo de ninguém por sua natureza desarmônica. Portanto, aquele que é amigo não é bom e nem é mau. O amigo é como aquele que ama a sabedoria. O amigo é como o filósofo que está no meio termo entre a ignorância e a sabedoria. Aquele é totalmente bom não precisa procurar o bem, visto que o tem. Aquele que é 100% mau, não procura sequer um outro mau, pois ele está pleno em si de sua desarmonia. Só aquele que tem condições de perceber sobre aquilo que lhe faz falta é capaz de direcionar o seu querer para o objeto que não possui. Exatamente como um filósofo que sabe que nada sabe (rs), isto é, que sabe que não possui um grande conhecimento e por isso o persegue. Assim seria a amizade, não o relacionamento entre dois entes, mas a tentativa de se superar algo mau e de se alcançar algo bom. Sócrates não consegue tirar uma conclusão sobre a natureza da amizade ou dos amigos. Seu ensinamento não é doutrinador, mas sim investigativo e questionador. O que lhe importa é a contínua busca pela verdade e não o acesso a ela, o que prevalece nesse diálogo é a lição de como se conduzir um exame filosófico.Ao final, Sócrates diz:”as pessoas dirão que nós nos imaginamos mutuamente amigos (…) quando, na realidade, nem sequer conseguimos descobrir o que é um amigo.”
Fonte: Canal Filosofandohttps://youtu.be/TIQ1XXwNcvA