Jung responde sobre Curas Milagrosas (Jung – Cartas: Vol. 03 – alterado)
#jung#curas#protagonismo
A melhor resposta deveria ser dada na forma de exemplos, pois é muito difícil estabelecer princípios gerais em assunto tão complexo. A 1a. coisa é distinguir entre curas aparentes, isto é, aquelas que parecem milagrosas aos leigos e curas que parecem milagrosas também aos iniciados. Suponho que muitas das curas ditas milagrosas se baseiam em associações psíquicas que, para nós, nada tem de milagroso. Lembro-me, por exemplo, do caso de uma senhora de 60 anos que durante 17 anos andou de muletas por causa de uma dor inexplicável no joelho esquerdo. Foi no tempo em que eu dirigi a clínica Forel de tratamento com hipnose e sugestão, antes da I GM. Quando lhe disse que a hipnotizaria, ela caiu imediatamente, sem intervenção minha, num sonambulismo hipnótico do qual consegui tirá-la só com muito empenho. Quando voltou a si, levantou e disse: “Estou curada”. Quando a acompanhante lhe estendeu as muletas, ela recusou e caminhou feliz, sem apoio de nada e de ninguém, para casa. Meus alunos ficaram impressionados com o “milagre”. O motivo da cura foi que ela tinha um filho que tivera uma doença mental e se encontrava inclusive nesta clínica em minha secção, fato que eu desconhecia. Ela havia descoberto em mim seu filho bem-sucedido e feito uma correspondente transferência para mim. A cura fora uma demonstração a meu favor. Podia renunciar a suas dores neuróticas em troca dessa feliz transferência. O mesmo acontece também na igreja, onde vale a pena ser curado diretamente pela mãe de Deus e ser admirado pelo público por esta predileção. Mas, tratando-se de um mal orgânico, por exemplo tuberculose, quando segundo os padrões médicos, não se deve esperar processo de cura relativamente rápido, mas assim mesmo a cura acontece, então o caso é diferente. Tratei de vários casos que sofriam de tuberculose pulmonar crônica e que precisavam anualmente passar certo tempo em Davos; e observei que em poucas semanas a lesão sarava e não havia mais necessidade de temporadas de cura. Isto é milagroso para o leigo, mas para o médico é algo compreensível. O mesmo vale para os tumores. Observei casos em que acontecimentos psíquicos ou um tratamento psíquico não só fez desaparecer diversas metástases, mas também um tumor primário, sem que estas observações me levassem a crer na cura psicoterapêutica de tumores. Num caso desse tipo, o contato com a esfera dos arquétipos pode produzir aquela constelação que está na base da sincronicidade. Sob essas circunstâncias pode ser esperado algo que toca os limites do milagroso ou é simplesmente milagroso, porque, não conseguimos descobrir os caminhos e meios de um resultado sincronístico. Obviamente exige-se a máxima cautela, pois curas que são psiquicamente compreensíveis em si podem operar-se de modo tão refinado que é preciso ter muita experiência para reconhecê-la como tais. Contudo, há certo número de casos, cuja a cura é incompreensível dentro de nossos conceitos (…). Sempre que entramos na esfera do arquétipo, podemos contar com certa probabilidade de fenômenos sincronísticos que acontecem com crentes e não crentes. Esses fenômenos são relativamente raros e ocorrem num plano além de crença e não crença.É claro que estas coisas acontecem não só sob condições arquetípicas interiores, mas também precisam muitas vezes de um ambiente exterior para sua superveniência como, por exemplo, lugares numinosos. Em Lourdes, onde Maria aparece como uma espécie de mãe-terra que dá um novo nascimento, o ambiente exterior é a gruta e a fonte. Esta é inclusive um cognome de Maria: Fonte das fontes.
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