O Sonho de Jung
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Num belo dia de verão do mesmo ano (1887), voltando do colégio ao meio-dia, passei pela praça da catedral. O céu estava maravilhosamente azul, o sol brilhava em toda a sua luminosidade (…) Sentia-me deslumbrado pela beleza desse espetáculo e pensava: “O mundo é belo, a igreja é bela, e Deus, que criou tudo isso está sentado lá no alto, no céu azul, num trono de ouro…” Neste momento senti uma sensação de asfixia e me esforçava por não continuar a pensar!”Está para acontecer algo terrível. Não quero pensar nisso; não devo de maneira alguma me aproximar. Por quê? Porque senão você cometerá o maior dos pecados. Qual é o maior dos pecados? Um assassínio? Não! Não pode ser isso. O maior dos pecados é aquele que se comete contra o Espírito Santo: para o qual não há perdão. Quem o comete é condenado ao Inferno por toda a eternidade. (…) Não posso fazer isso com meus pais. De forma alguma devo continuar a pensar nisso!”Mas era mais fácil dizer do que fazer. (…) minhas ideias sempre voltavam à bela catedral que eu tanto amava, e ao Bom Deus sentado em seu trono (…) e eu sempre repetia comigo “Não devo pensar nisso, não devo pensar nisso!” Cheguei a casa num estado de tremenda perturbação (…) Os dois dias que se seguiram foram dolorosos, minha mãe estava certa de que eu estava doente. Resistia sempre a ideia de confessar-me, fortalecido pela ideia de que causaria uma grande tristeza a meus pais.
📖 Memorias, Sonhos e Reflexões – Carl G. Jung adaptado.

Penso num sonho muito importante de Jung que, como vocês sabem, era filho de um pastor. Quando criança, sonhou que Deus fazia cocô sobre sua igreja. Foi terrível. Só muito mais tarde ele compreendeu o sonho. Que teria de vivenciar nele mesmo a união dos contrários, a união entre o alto e o baixo. Entre o que ele desprezava em seu corpo, a parte baixa, e sua busca espiritual. Jung considerou esse sonho arquetípico: que Deus convidava integrar a matéria em sua busca espiritual. Senão, estaria se arriscando a uma falsa espiritualidade, uma espiritualidade de planador… A matéria só é salva se deixamos que a luz atinja suas profundezas.
Um monge do Monte Athos me dizia que muitos receberam o Espirito Santo no alto da cabeça, alguns poucos um pouco abaixo da cabeça, outros no coração, outros no ventre. Raro encontrar alguém no qual o Espírito Santo tinha descido à região sacra (sagrada) onde estão o sexo e o ânus. Esse mesmo monge me dizia: ” A pessoa que acolheu o Espírito Santo em todo seu ser foi a Virgem Maria. Acolheu-o em suas entranhas, em seu corpo, em toda sua matéria. E por isso tornou-se Sede da Sabedoria (Sedes Sapientiae)
📖 O Corpo e seus Símbolos- Jean-Yves Leloup adaptado.

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