Quando me mandaram fazer a faculdade de Psicologia, eu fiquei muito incomodada. Foi como se tivessem invalidado todos os meus estudos de mais de cinco anos e todo o meu processo interior para apurar a minha sensibilidade com relação a mim mesma e ao outro. Aos poucos, percebi o grande desentendimento, a grande incompreensão que distingue o dito-cujo Psicólogo com Diploma e o terapeuta. Então pensei comigo, é preciso diferenciar de uma forma mais fácil esses dois caminhos.

Segundo um artigo da professora Serra, a Psicologia começou como uma disciplina científica independente no final do séc. XIX. Seu diploma é uma exigência legal, necessária para a proteção dos direitos dos pacientes, mas de forma alguma é garantia de atitude ética de cada profissional. A professora Serra aponta a Psicanálise de Sigmund Freud como uma das primeiras escolas da Psicologia – e daí vem o primeiro equívoco. Segundo Roudinesco(1999) – uma grande referência da Psicanálise e biógrafa de Freud – a Psicanálise não fica presa a uma disciplina, ela se propõe a ser investigativa, especulativa… E para cumprir sua proposta, ela atua em vários campos e não deveria estar no centro de nenhuma formação, nem de médico e nem de psicólogo! A ciência é o paradigma do saber da Psicologia, tanto é que se define como “disciplina científica”, por outro lado, a psicanálise de Freud e a terapia de Jung estão em um lugar de clivagem de saberes que mesclam ciências naturais, ciências humanas, arte, filosofia, religião.

Ser terapeuta é muito mais antigo que a profissão psicólogo.
A palavra vem da Grécia Antiga ‘therapeuien’ e significa originalmente ‘servir aos deuses’ e mais tarde virou sinônimo de ‘curar’, mas um curar dentro de um contexto sagrado. Um historiador egípcio conhecido por Filo de Alexandria faz referência a um grupo de judeus contemplativos, pré – cristãos, que chamavam a si mesmos de Therapeuts, pois professavam uma arte medicinal em que tratavam não só os corpos, mas as almas que estavam submetidas a um elenco inumerável de paixões e vícios. Portanto, psicoterapia significa serviço à psique. (Erdinger, 1990).
Já conversei com pessoas formadas na faculdade de Psicologia, eles dizem que viram pouco de Freud e nada de Jung! Não sei como estão as grades disciplinares dessas faculdades hoje, mas, a meu ver, para entender a base da psicanálise e da teoria junguiana é preciso estudar no mínimo dois anos e meio. Jung, dissidente da teoria psicanalítica, identificou quatro funções psicológicas, fundamentais, quatro maneiras de um indivíduo apreender o mundo e agir sobre ele, que são: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Cada uma dessas funções pode ser experienciada tanto de uma maneira introvertida quanto extrovertida. A ciência é o jeito predominante de compreender e agir sobre o mundo calcada nas funções pensamento e sensação, sendo as demais funções reprimidas ou esquecidas.
Portanto a sessão de análise junguiana cujo intuito é uma espécie de arte, busca conscientizar a totalidade do ser, conscientizando-se de todas as funções está além do científico.
A abordagem do inconsciente – quer seja pela Psicanálise ou pela Terapia Junguiana – requer uma abordagem de alguém com intimidade com seu próprio inconsciente, preparado para lidar com fatores irracionais da personalidade humana que ajudam ou dificultam a realização de suas potencialidades como um ser humano único. Será que um jovem recém-saído de sua faculdade de Psicologia tem esse contato com o inconsciente, além de um bom grau de autoconhecimento para atender o outro? Entendo que há muito charlatanismo, pessoas que clamam ter um saber que não possuem e, por isso, muitos optam pelo psicólogo com diploma. No entanto, eu preciso dizer que as terapias psicanalítica e junguiana não são propriedade privada da Psicologia e não nasceram como escolas da Psicologia.

Os melhores terapeutas junguianos que conheci em vida e nos livros (por exemplo, Marie Louise von Franz e Roberto Gambini) não foram diplomados psicólogos!Ser terapeuta é estar em autoeducação e autoaperfeiçoamento constantes. Não há diploma que garanta isso.

Referências:
ERDINGER, E.F. Anatomia da Psique: o simbolismo alquímico na psicoterapia. São Paulo: Cultrix, 2006.
ROUDINESCO, E. Por que a Psicanálise? Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1999.
SERRA, A.M.M.História da Psicologia Moderna. Instituto da Terapia Cognitiva. Disponível em: http://www.itcbr.com/artigo-historia-psicologia-moderna….
SILVA, A.S.. O que é decisivo agora não é o diploma médico, mas a qualidade humana. Disponível em: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=655036549957170&id=100063524924960&mibextid=Nif5oz
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Luciana Mion
e-mail: lulumion@hotmail.com
*Atualmente estudante do Introdução à Clínica Junguiana no SEDES SAPIENTAE (2023)
*Pós-Graduação em Formação Holística de Base na UNIPAZ (2022)
*Formação em Psicoterapia Freudo-Junguiana no Instituto Planação (2021)
*Formação nos cursos de Mitologia Afrobrasileira e Alquimia e Psicologia Junguiana no Instituto Freedom (2020)
*Formação incompleta como Terapeuta Junguiana no Instituto D’Alma (2019)
* Graduação Lazer e Turismo na USP (2012)
*Graduação Comunicação Social na ESPM (2007)
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