Roma espantou-se com o fato de caberem em seu seio bocas prontas para o boato, tantas línguas ansiosas para a maledicência, tantos ouvidos ansiosos para a calúnia. Correu o boato de que a rainha Cleópatra do Egito tornara-se muito ciumenta. E mais de uma dama comentou, sem graça, que isso indubitavelmente se devia ao avanço de sua idade. Outras diziam que a matéria bruta de seus cosméticos esgotara-se no Egito e que a rainha, obrigada a mostrar-se diante de Antônio com o rosto limpo de artifícios, começava a perder seus favores. Falou-se até que Cleópatra era um homem transformado em mulher, sem deixar, com isso de perder seus atributos. O que justificaria ter, na juventude, fascinado Júlio César – que, em sua mocidade, fora louco por efebos – e, anos depois, ter conseguido aprisionar a vontade de Antônio. Mas a lenda que convertia Cleópatra em homem não prosperou, porque cada dia apareciam dez jovens romanos que se jactavam de ter-se deitado com ela em sua estadia em Alexandria. E quando o discreto Polindo contou o número de conquistadores do leito de Cleópatra, pôde deduzir que a cifra era impossível, pois ela não poderia dispor de tantas horas em todos os dias de sua vida. (p.265-266) (…) Ninguém pode acusá-lo de avaro por dar a Cleópatra o quanto ela quer. Já faz anos que põe a seus pés mundos, impérios, tronos usurpados. E já que falamos em livros, direi que até neles Marco Antônio é dadivoso. Pois sabendo que o maior orgulho de Cleópatra está na Grande Biblioteca de Alexandria e que as legiões de César queimaram uma parte de seu gigantesco acervo nos dias da guerra civil egípcia, Marco Antônio decidiu emendar o dano presenteando-a com cinco galeras carregadas de volumes que roubou da biblioteca real de Pérgamo. (p.267) 📖 Fonte: Cleópatra, Rainha e Mulher de Terenci Moix 🐜🐜🐜🐜🐜🐜🐜🐜🐜🐜🐜🐜 🐜🐜

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